segunda-feira, 30 de julho de 2007

Adultos alfabetizados formam cooperativa


Aos 47 anos, o lavrador José Valdair Alves Rodrigues, residente na zona rural de Arinos, Minas Gerais, realizou um sonho: ler e escrever. Para esse homem simples, de fala mansa e bonita “a escola é o remédio da vida. Antes era como se eu vivesse na escuridão”, diz. A primeira vez que esteve numa sala de aula foi aos oito anos, mas teve que abandonar os estudos para ajudar a mãe que ficou viúva, explica.

José Valdair e outros 61 jovens e adultos de Arinos e de Brazlândia (DF) receberam sábado, 28, em Brasília, certificados de alfabetização. Os depoimentos fortes e emocionados foram compartilhados durante o 2º Seminário Alfainclusão — processos e perspectivas, promovido pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad/MEC).

Em mais de três décadas longe da escola, José Valdair alimentou o sonho de voltar à sala de aula. “Enquanto isso, eu ia para a lida e em casa treinava como escrever meu nome para assinar qualquer documento, assim eu decorei as letras e com muita dificuldade autentiquei minha identidade.” A oportunidade demorou, mas chegou no final de 2005, com o projeto Alfainclusão, uma parceria da Secad com a Fundação Banco do Brasil, que reúne metodologia de alfabetização com processos de geração de renda.

Para o projeto-piloto foram escolhidos os municípios de Arinos e Brazlândia que apresentam baixo índice de desenvolvimento humano (IDH). Residente no assentamento Chico Mendes, José Valdair ficou sabendo que teria aulas na sede da fazenda e disse à família que iria se dedicar de verdade aos estudos. Duas vezes por semana, durante 18 meses, ele acordou mais cedo, adiantou o trabalho, e às 16h se arrumava para ir à escola, distante 12 quilômetros de casa. “Tinha dia que ia a pé, em outros de bicicleta, mas eu ia de qualquer jeito”, relata.

Durante as aulas, todos os alunos aprendiam com a professora da comunidade, escolhida por eles, e também ensinavam uns aos outros o que sabiam. “Lá a gente era amigo, não aluno e professor”, conta Petronilia Teixeira da Silva, 39 anos, uma das alfabetizadoras do assentamento. “O melhor de tudo é saber que lá eu fazia parte”, completa. Alfabetizados, os alunos de Arinos com idade entre 26 a 65 anos integram hoje a cooperativa Urucooper. 

Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, André Lázaro, no Alfainclusão o aluno é um importante ator, pois além de exercer seu direito à educação ele desperta a consciência empreendedora ao participar de projeto inovador.

Fonte: Ministério da Educação